Cavalo Marinho: a poética brincante que galopa forte em Itambé

Por: Raphaela César

Entre cantorias, loas, máscaras e passos ritmados, o Cavalo Marinho resiste como uma das expressões mais vibrantes da cultura popular pernambucana. A brincadeira, que mistura teatro, dança, música e improviso, tem raízes profundas nas zonas da mata norte do estado — e é no município de Itambé que esse folguedo ganha corpo e alma por meio do grupo Boi Maneiro.

Com elementos cênicos que remetem ao ciclo natalino, o Cavalo Marinho é celebrado entre dezembro e janeiro, reunindo personagens arquetípicos como o Capitão, o Mateus, o Soldado da Guarda, Seu Ambrósio, entre outros. É uma encenação popular marcada por códigos próprios, ritmos como o cavalo-marinho (toque de rabeca acelerado e cadenciado), vestimentas coloridas, e uma linguagem que mescla o lúdico com críticas sociais enraizadas no cotidiano.

Em Itambé, essa tradição encontra terreno fértil. O grupo Cavalo Marinho Boi Maneiro mantém viva essa manifestação, reunindo jovens, músicos e mestres que se dedicam a preservar a memória cultural da região. A brincadeira é mais que folclore: é um ato de resistência, pertencimento e afirmação identitária.

Duda Bilau: o toque que ecoa na memória

Nenhuma história da cultura popular itambeense pode ser contada sem citar o saudoso Duda Bilau, reconhecido como um dos mestres pioneiros da tradição popular no município. Seu nome atravessa gerações como símbolo de dedicação à cultura popular, ao coco, ao maracatu rural e, claro, ao Cavalo Marinho.

Mais do que um músico ou brincante, Duda Bilau foi um formador de artistas, um guardião dos saberes ancestrais e um embaixador da cultura de Itambé. Seu legado ainda pulsa nas rabequeiras, nos batidas de pandeiro e nos corpos que dançam nas noites de brincadeira. É por meio de mestres como ele que a cultura popular permanece viva e se reinventa.

Tradição que pulsa

O Cavalo Marinho é mais do que espetáculo — é território sagrado onde tradição, fé, alegria e luta se entrelaçam. Em tempos de avanço da cultura de massa e homogeneização das expressões, manter viva uma brincadeira como essa é, também, uma forma de afirmar a importância do regional, do interior, do popular.

Itambé, com seu Cavalo Marinho Boi Maneiro e a memória de Duda Bilau, mostra que a cultura pulsa firme onde há quem a cultive com amor, respeito e compromisso com as raízes.

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